Por: José Boas
O Brasil, durante sua existência como Estado (a
partir de 1815, quando se tornou Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves até
o presente), passou por diversas fases e seu relacionamento com a esfera
produtiva de nossa sociedade (empreendedores e assalariados) mudou com ele.
Primeiro, de dezembro de 1815 até novembro de 1889, nosso
Estado tendia a um viés liberal: cobrava alguns impostos para manter sua
máquina burocrática em funcionamento, mas no mais das vezes – para o bem e para
o mal – pouco se enfiava na vida da iniciativa privada. Se um cidadão, por suas
forças e seus riscos, abrisse uma quitanda para vender laranjas, que
sobrevivesse delas ou que abandonasse o negócio... tudo era problema seu. Foi
nesse clima que o Visconde de Mauá, os irmãos Rebouças e José do Patrocínio
abriram seus negócios e prosperaram...
Em seguida veio o golpe da república, os “barões do café”
tomaram o poder e começaram a ditar os rumos da economia, geralmente guiados
pelo patrocínio de suas fazendas às custas do dinheiro público: eis o porquê de
Ruy Barbosa chamar a primeira geração do Senado da república de “balcão de
negócios”... foi o primeiro ataque voraz aos nossos cofres públicos para fins
privados.
Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Luiz Inácio... Lula ... os maiores ícones do Estado-Pai do século XX |
Mais tarde, em 1930, fundou-se o Estado paternalista de
Getúlio Vargas, que tudo gerenciava, tudo providenciava, tudo gerava; como um
ente supremo, um ser “ex machina”, o chão de onde tudo deveria vir: educação,
saúde, segurança, emprego, comércio, pesquisa, transporte, lazer, administração
de conflitos... tudo deveria ter a mão do Estado para “funcionar bem”, aos
moldes do que igualmente ocorria na URSS de Stálin, na Alemanha de Hitler e na
Itália de Mussolini... tínhamos um Estado “papai”. Os cidadãos até tinham direitos e se dizia que tinham liberdade... mas aos olhos do Estado não estavam aptos a exercer nem um, muito menos outra.
E nos acostumamos a ele pela repetição: este paternalismo
estatal se reafirmou em 1937 (Estado Novo), depois com os 50 anos em 5 de JK,
depois com o período militar (1964 a 1985) ... e dele não conseguimos sair até
hoje. Nos viciamos em um Estado que tudo oferece, como o Coronel que alimenta com abóboras, farinha e carne seca o Jeca Tatu ... e o Jeca lhe é grato por isso!
Um Estado que tudo controla, tende a se tornar - com o tempo - um Estado que tudo domina, inclusive a consciência das pessoas. Submeter-se a ele é submeter-se a um tirano |
Reclamamos quando o Estado não oferece escola, hospital,
policiamento... mas vamos além: reclamamos quando ele não nos dá transporte,
estradas, empregos, aumento de salário, vias de exportação, energia elétrica,
espaços de lazer, internet, previdência social... nos tornamos criaturas do
Estado, abandonamos nossa condição de cidadãos livres, pensantes e produtivos
para vivermos trabalhando para uma máquina gigantesca, grotesca, ineficiente,
que suga nosso sangue e nos devolve apenas migalhas... e somos gratos quando as
recebemos!
Hoje somos viciados em um Estado que nos alimenta de sobras,
mas não dos desvencilhamos dele porque não sabemos – e muitas vezes fugimos da
responsabilidade de – tocarmos nossas próprias vidas, sem as frágeis muletas
que os governos e os políticos de plantão nos oferecem, sempre em troca de uma
promessa de votos nas próximas eleições... somos uma sociedade que vive uma
Síndrome de Estocolmo incubada, silenciosa e que evidencia uma vergonhosa paixão e uma triste dependência de seu algoz!
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