quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Estado-Pai ou Estado-tirano?

Por: José Boas

O Brasil, durante sua existência como Estado (a partir de 1815, quando se tornou Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves até o presente), passou por diversas fases e seu relacionamento com a esfera produtiva de nossa sociedade (empreendedores e assalariados) mudou com ele.

Durante quase todo o século XIX, nossos empresários e trabalhadores estavam por sua conta e risco dentro do mercado de trabalho... para o bem ou para o mal, a prosperidade ou a bancarrota era responsabilidade sua

Primeiro, de dezembro de 1815 até novembro de 1889, nosso Estado tendia a um viés liberal: cobrava alguns impostos para manter sua máquina burocrática em funcionamento, mas no mais das vezes – para o bem e para o mal – pouco se enfiava na vida da iniciativa privada. Se um cidadão, por suas forças e seus riscos, abrisse uma quitanda para vender laranjas, que sobrevivesse delas ou que abandonasse o negócio... tudo era problema seu. Foi nesse clima que o Visconde de Mauá, os irmãos Rebouças e José do Patrocínio abriram seus negócios e prosperaram...

Em seguida veio o golpe da república, os “barões do café” tomaram o poder e começaram a ditar os rumos da economia, geralmente guiados pelo patrocínio de suas fazendas às custas do dinheiro público: eis o porquê de Ruy Barbosa chamar a primeira geração do Senado da república de “balcão de negócios”... foi o primeiro ataque voraz aos nossos cofres públicos para fins privados.

Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Luiz Inácio... Lula ... os maiores ícones do Estado-Pai do século XX

Mais tarde, em 1930, fundou-se o Estado paternalista de Getúlio Vargas, que tudo gerenciava, tudo providenciava, tudo gerava; como um ente supremo, um ser “ex machina, o chão de onde tudo deveria vir: educação, saúde, segurança, emprego, comércio, pesquisa, transporte, lazer, administração de conflitos... tudo deveria ter a mão do Estado para “funcionar bem”, aos moldes do que igualmente ocorria na URSS de Stálin, na Alemanha de Hitler e na Itália de Mussolini... tínhamos um Estado “papai”. Os cidadãos até tinham direitos e se dizia que tinham liberdade... mas aos olhos do Estado não estavam aptos a exercer nem um, muito menos outra.

E nos acostumamos a ele pela repetição: este paternalismo estatal se reafirmou em 1937 (Estado Novo), depois com os 50 anos em 5 de JK, depois com o período militar (1964 a 1985) ... e dele não conseguimos sair até hoje. Nos viciamos em um Estado que tudo oferece, como o Coronel que alimenta com abóboras, farinha e carne seca o Jeca Tatu ... e o Jeca lhe é grato por isso!

Um Estado que tudo controla, tende a se tornar - com o tempo - um Estado que tudo domina, inclusive a consciência das pessoas. Submeter-se a ele é submeter-se a um tirano

Reclamamos quando o Estado não oferece escola, hospital, policiamento... mas vamos além: reclamamos quando ele não nos dá transporte, estradas, empregos, aumento de salário, vias de exportação, energia elétrica, espaços de lazer, internet, previdência social... nos tornamos criaturas do Estado, abandonamos nossa condição de cidadãos livres, pensantes e produtivos para vivermos trabalhando para uma máquina gigantesca, grotesca, ineficiente, que suga nosso sangue e nos devolve apenas migalhas... e somos gratos quando as recebemos!


Hoje somos viciados em um Estado que nos alimenta de sobras, mas não dos desvencilhamos dele porque não sabemos – e muitas vezes fugimos da responsabilidade de – tocarmos nossas próprias vidas, sem as frágeis muletas que os governos e os políticos de plantão nos oferecem, sempre em troca de uma promessa de votos nas próximas eleições... somos uma sociedade que vive uma Síndrome de Estocolmo incubada, silenciosa e que evidencia uma vergonhosa paixão e uma triste dependência de seu algoz!

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