quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"A escola perdeu sua função social no Brasil", diz estudioso

Para especialista, missão primordial de transmitir conhecimento vem sendo esmagada pela ideologia que reduz a educação a ferramenta de dominação

Texto: José Boas
                                            
(São Paulo) - Pouca gente discorda que é papel da escola transmitir os conhecimentos imprescindíveis ao desenvolvimento do indivíduo e, por tabela, do país. Para o estudioso João Batista Oliveira, contudo, a missão vem sendo esmagada no Brasil por políticas mais interessadas em propagandear números grandiosos e por ideologias cujo interesse passa longe da educação. O resultado é o fracasso do ensino no país. "Perdemos a noção da função social da escola. Ela deixou de ser cobrada pelo cumprimento de suas obrigações essenciais e passou a ser cobrada por milhares de coisas que ela não tem condição de fazer, como cuidar da educação sexual, educação para o trânsito, para o consumo etc.", diz Oliveira.

Na sanha por "mostrar resultados", MEC e Secretarias de Educação Brasil a fora, criaram políticas que sobrecarregaram as escolas com conteúdos secundários e até com funções que são obrigação da família. Escola serve a um propósito: dar qualificação técnica

A história de como se deu esse processo é dissecada no livro Repensando a Educação Brasileira, que já está nas livrarias, em que o pesquisador discute qual é, enfim, a função da escola e propõe medidas para recolocar nos trilhos professores e escolas. Oliveira atuou durante vinte anos como consultor do Banco Mundial e da Organização Internacional do Trabalho e ajudou a implantar projetos de educação em mais de sessenta países. No Brasil, foi secretário executivo do Ministério da Educação e, desde 2006, está à frente do Instituto Alfa e Beto, organização não governamental que promove a alfabetização em redes públicas de ensino.

Como o senhor vê o atual debate sobre educação no Brasil?

Em nosso país, não há debate.
A educação é tratada somente do ponto de vista de leis, regulamentos, aumento de vagas, interesses de professores e sindicatos. A política de educação sempre foi pautada pela ideia de crescimento.

Hoje o professor é obrigado a lecionar, mas seguindo uma miríade de normas, regulamentos, demandas e exigências que levam tudo em consideração, menos o aprimoramento intelectual do aluno...

... Ou seja, mesmo que país esteja vendo sua taxa de natalidade cair, ainda se vendem promessas de mais vagas, além de mais tempo na escola, mais disciplinas no currículo, mais regulamentação. É uma estratégia que interessa aos políticos, porque gera emprego para professores e mais construções para somar ao orçamento, que caem bem em período eleitoral. De certo modo, essa visão distorceu o debate, que virou um discurso de carências: falta isso, falta aquilo. As políticas governamentais induziram a essa situação e eliminaram os espaços para discutir outras questões, como a aprendizagem do aluno.

Reina em nossas escolas uma forte corrente que confunde "aluno consciente" com militante político de esquerda... como se consciência social e política fosse um item de um suposto monopólio das virtudes que somente o pensamento socialista, presumidamente, possuiria

No quadro atual, o estudante é mais um subproduto desse debate. Na outra ponta, existe a responsabilidade da academia, com professores e pesquisadores que rechaçam qualquer ideia contrária a suas ideologias. Eles fazem uma doutrinação ideológica e antiquada de que educação é um objetivo de dominação e de controle e que a pedagogia não interessa.

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