Para
especialista, missão primordial de transmitir conhecimento vem sendo esmagada
pela ideologia que reduz a educação a ferramenta de dominação
Texto: José Boas
(São
Paulo) - Pouca gente discorda que é papel da escola transmitir os conhecimentos
imprescindíveis ao desenvolvimento do indivíduo e, por tabela, do país. Para o
estudioso João Batista Oliveira, contudo, a missão vem sendo esmagada no Brasil
por políticas mais interessadas em propagandear números grandiosos e por
ideologias cujo interesse passa longe da educação. O resultado é o fracasso do
ensino no país. "Perdemos a noção da
função social da escola. Ela deixou de ser cobrada pelo cumprimento de suas
obrigações essenciais e passou a ser cobrada por milhares de coisas que ela não
tem condição de fazer, como cuidar da educação sexual, educação para o
trânsito, para o consumo etc.", diz Oliveira.
A
história de como se deu esse processo é dissecada no livro Repensando a Educação Brasileira, que já está nas livrarias, em que
o pesquisador discute qual é, enfim, a função da escola e propõe medidas para
recolocar nos trilhos professores e escolas. Oliveira atuou durante vinte anos
como consultor do Banco Mundial e da Organização Internacional do Trabalho e ajudou
a implantar projetos de educação em mais de sessenta países. No Brasil, foi
secretário executivo do Ministério da Educação e, desde 2006, está à frente do
Instituto Alfa e Beto, organização não governamental que promove a alfabetização
em redes públicas de ensino.
Como o senhor vê o atual
debate sobre educação no Brasil?
Em nosso país, não há debate.
A
educação é tratada somente do ponto de vista de leis, regulamentos, aumento de
vagas, interesses de professores e sindicatos. A política de educação sempre
foi pautada pela ideia de crescimento.
Hoje o professor é obrigado a lecionar, mas seguindo uma miríade de normas, regulamentos, demandas e exigências que levam tudo em consideração, menos o aprimoramento intelectual do aluno... |
No quadro atual, o estudante é mais um
subproduto desse debate. Na outra ponta, existe a responsabilidade da
academia, com professores e pesquisadores que rechaçam qualquer ideia contrária
a suas ideologias. Eles fazem uma doutrinação ideológica e antiquada de que
educação é um objetivo de dominação e de controle e que a pedagogia não
interessa.
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