Por: José Boas
E
foi deflagrada mais uma tentativa de vencer a corrupção no Brasil! Foi
deflagrada mais uma vez... para que nosso sistema jurídico, com todos os seus
direitos e seguranças, garanta a essa gente que pouco ou nada pensa no Brasil e
seu povo, todos os benefícios a dúvidas, recursos, defesas... foi deflagrada
mais uma ação que enche o brasileiro de esperança, mas que – no fim – sempre dará
no mesmo: uma multa irrisória diante da fortuna desses tais, nenhuma cadeia, o
povo indignado e o nome de um país jogado no esgoto.
Não
se trata de verificar se nossa carne é fraca; não se trata de investigar se
existem trapaças na hora em embalar frangos contaminados para fora do Brasil;
não se trata de absolutamente nada disso... se trata, enfim, de um país que não
consegue se livrar de sua Síndrome de Maracutaia, baseada na “Lei do mais
esperto”, sob os auspícios do “mais malandro” que passa a perna no “mais mané”...
e dizemos que isso faz parte da “identidade nacional”!
Ainda somos uma sociedade que se orgulha de sua malandragem, de seu poder de ludibriar quem é menos afortunado nos dons da safadeza e da pequena bandidagem |
Nossa
carne é fraca, no frigir dos ovos, porque nosso código moral é um fiasco!
Nossas trapaças do dia-a-dia, as pequenas trapaças, encobrem que todos nós, uma
hora ou outra da vida, já pensamos em ser um pouco “BRF”... e por isso nossa
indignação é seletiva, relativa e a canto de boca!
A
BRF errou e feio! Errou não só com sua reputação como empresa, mas errou como
símbolo de um país que procura se colocar como agente econômico de um mundo que
não tolera esse tipo de comportamento de quem quer ser grande, pois entre os
grandes não existe espaço para esse tipo de coisa!
Ao
insistir no erro – insistir, sim, pois desde o primeiro momento da operação
Carne Fraca o nome da BRF foi citado! – a BRF mostrou-se indigna de ser
reconhecida como uma empresa de porte internacional! Se mostrou apenas uma
empresa inchada, não grande! Uma empresa composta por milhares de mãos e
pernas, algumas cabeças, mas nenhum caráter, nenhuma ética, nenhum valor... se
mostrou empresinha, boteco, que não sabe escolher seus administradores sob
qualquer critério que lhe agregue valor.
O
problema, porém, não é a BRF... ela é apenas o boi-de-piranha da vez! O
problema reside em todas as empresas brasileiras que, tal qual a BRF, se portam
como se não tivessem um nome a zelar; como se sua reputação tivesse sido achada
na sarjeta e para lá pode voltar a qualquer momento, sem nenhum pesar, nenhum
remorso, nenhuma pena... empresas que, independentemente de seu tamanho e da
quantidade de pessoas que empregam, continuam a tratar a si mesmas como boteco,
como “secos e molhados do seu Juca”, empresinha que morrerá junto com seu dono...
e se elas se veem como boteco, tratam seus clientes como pinguços, gente sem
valor, que come e bebe qualquer coisa.
Assim
se vê a BRF; assim nos vemos nós! Assim, enfim, vemos o Brasil como sociedade!
Tenho dúvidas se o problema mesmo é cultural (dito de outro modo, nosso "código moral", como você mesmo disse ZéBoas). Digo isto porque temo que tratemos ao brasileiro sempre como uma espécie de periferia da civilização (o que é freqüentemente verdadeiro, mas nem sempre). Creio que neste caso o problema é institucional apenas. Como a certificação sanitária é um monopólio, só há uma certificadora a cooptar. Como após cooptá-la, o risco de ser pego é nulo (pois sendo pego, como agora, o monopólio da certificação não foi revogado, logo, a conseqüência de ser pego é nulo: algumas pessoas são presas, descartar-se-á-las, substituir-se-á-las por outras pessoas, a empresa no máximo muda de propriedade e nome, a certificadora sanitária permanece a mesma e monopolística, logo, pode-se reiniciar o jogo de cooptação). Logo, mesmo pessoas que venham de uma cultura com um código moral superior serão corrompidas por este jogo. A natureza de monopólio do jogo corrompe tudo. Primeiro por ser tentador demais para qualquer um. Segundo porque, sendo um monopólio, a chance de ser pego existe, mas as conseqüências, como supramostrado, são inexistentes, porque o jogo permaneceu identifico (ou seja, uma certificação sanitária monopolística). E terceiro porque, num quadro em que só há uma certificadora, não cooptá-la é suicídio porque outrem o fará. Logo, não é um problema cultural, mas formal: com este desenho institucional é impossível ser diferente.
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