Texto: José Boas
Em
artigo publicado recentemente pelo site da Confederação Nacional da Indústria –
CNI, o presidente da entidade, Robson Braga de Andrade afirmou que o setor
industrial é fundamental para a criação de postos de trabalho e qualificação da
mão-de-obra.
Sem
dizer nomes, Braga de Andrade disse que “um destacado membro da equipe
econômica do atual governo afirmou que não é relevante se o Brasil exporta produtos
manufaturados ou agrícolas”, criticando a postura do burocrata e
lembrando que a indústria nacional representa 21% do PIB brasileiro, 55% de
nossas exportações, 66% dos investimentos nacionais em pesquisa custeados pela
iniciativa privada e mais de 30% do total de tributos arrecadados pelo Governo
Federal.
De
fato, a reclamação do presidente da CNI faz todo o sentido e é assustador – se for
verdadeira a afirmação – de que um membro do alto escalão do governo tenha
afirmado uma coisa dessas! Somente em mentes muito pequenas ainda há uma
dicotomia entre o que é agro e o que é indústria, principalmente em um país com
as potencialidades econômicas como as que tem o Brasil!
O
Brasil precisa, de uma vez por todas, desenvolver mentes que escapem do
pensamento típico do socialismo europeu do início do século XX: a dicotomia ou “chão-de-fábrica” ou “lavoura” (lembremo-nos do símbolo mais conhecido
dos comunistas - uma foice e um martelo), e ingressar em uma realidade na qual
todo o resto do mundo já está inserido ou busca a todo custo penetrar; isto é,
não existe mais uma fronteira clara entre
campo e cidade, roça e metrópole, a
charrete e o carrão...
O Chico Bento contemporâneo têm à sua disposição - e sabe manusear - todos os artifícios tecnológicos que a Mônia usa... e os usa para ganhar dinheiro! |
Façamos
um exercício de imaginação: pensemos em um sujeito completamente urbano, que nunca
saiu de sua metrópole para nada (daqueles que acham que frango é aquela carne
que cresce dentro do saco plástico da Sadia e leite é aquele líquido que vem
dentro da caixinha Tetra Pak...) e façamo-lo visitar uma lavoura do Brasil
atual. Eis o que ele encontrará em nossa “roça”:
colheitadeiras e plantadeiras que são guiadas por GPS, tratores autônomos,
drones fazendo todo tipo de tarefa (contando cabeças de gado, fazendo
georreferenciamento, pulverizando plantações de todos os tipos, vigiando
propriedades rurais contra bandoleiros), verá nosso “Chico Bento” contemporâneo
sentado à sombra se sua goiabeira preferida enquanto verifica com seu corretor (que
está em qualquer parte do mundo) via whatsapp, o melhor momento de vender sua
safra para o mercado interno ou externo... Só na cabeça medíocre de quem olha
para um Brasil “república velha” é que campo e cidade ainda caminham separados
e não dependem um do outro!
Trator autônomo Case IH Magnum - pra quê tratorista, se o satélite faz o mesmo trabalho? A indústria chegou ao campo e ambos são praticamente a mesma coisa! |
Quando
eu era menino – lá pelos meus 16 anos de idade – e saí do interior de Mato
Grosso para ir estudar em Brasília-DF, me deparei com uma figura engraçada: um
filhote de “aspone de carreira” (Aspone
= Assessor de Porra Nenhuma) lá da
Esplanada dos Ministérios se achando “rico”
porque seu pai havia comprado um carro de R$ 200 mil (valores atuais); pensei
com meus botões, então... se esse Zé Ruelas se acha “rico” por ter um carro nesse valor, o que são os agricultores que
eu conheço que compram colheitadeiras de R$ 1,5 milhão e aviões pulverizadores
de R$ 3 milhões?
O Brasil só entrará no
século XXI quando entender que determinadas dicotomias só são viáveis e
aceitáveis nas cabeças e nas ideologias de quem não entende nada, absolutamente
nada, de realidade!