Por: José Boas
Sim, bem isso mesmo: nossa política reduziu-se a um circo,
um espetáculo, um simples show de entretenimento onde todos pagam caro para
assistir pessoas fazerem algo que nos traga algum tipo de emoção passageira
(quer seja alegria, raiva, angústia, frustração, arrependimento...).
Em um picadeiro onde tudo pode acontecer, palhaço é o povo, que acredita naquilo que vê |
O mais interessante disso tudo é que os próprios políticos,
aqueles que outrora deveria envergar as virtudes e os anseios de seu povo,
representando-o bem e com dignidade, reconhecem sua falência moral e funcional;
reconhecem que falharam em sua função única e básica, passando para
celebridades (os palhaços profissionais) o espaço no palanque, a vez no
microfone, a cara na TV durante o horário eleitoral... mas não sem um propósito:
mesmo tendo que reconhecer sua falência e seu desgaste diante da opinião
pública, não perdem a sanha pelo voto, o desejo de colocar no poder seu grupo
de interesse, a busca por – enfim – ter nas mãos as chaves dos cofres públicos
para benefício de sua ideologia, de sua turma e, óbvio, benefício próprio.
Talvez as próximas eleições sejam as que mais vão ter “celebridades”
aparecendo como candidatos a deputados estaduais, federais, senadores e...
corre por aí um boato, até à presidência da república.
E nós, eleitores, nessa história toda, como ficamos? Ficamos
como sempre estivemos desde aquela marcha de Deodoro da Fonseca para derrubar o
gabinete do Primeiro-Ministro e que culminou no primeiro golpe de Estado de
nossa História: ficamos a assistir, atônitos, passivos, bestializados, inertes,
todo o show de horrores que decorre dessa briga pelo poder que é travada entre
grupelhos que nada tem a ver com a vontade geral, mas e tão somente por
defender seus interesses corporativos, pessoais, partidários, ideológicos...
somos espectadores deste enorme show de horrores.
A celebridade que antes era somente “garoto-propaganda”, que
defendia um partido por acreditar nele, que cantava musiquinhas engraçadinhas e
motivacionais para atrair o voto de gente que mal sabe o valor de um título
eleitoral, hoje é o porta-voz oficial de uma marca, de uma associação, de um
clube específico: o partido político, que deixou de lado completamente seu viés
ideológico e representativo e se tornou apenas um refrão, um lema, um símbolo
com apelo mercadológico, uma logomarca, um número para as eleições... “qualquer
partido serve, o que importa é disputar as eleições e ter chances de ganhar”,
era o que eu mais escutava dos políticos profissionais em Brasília durante o período
eleitoral.
Portanto, antes de votarmos em uma celebridade só porque ela
é cativante, empolgante, interessante... vamos nos lembrar que ela é paga para
ser daquele jeito, que aquilo não é um ser humano, mas uma personagem em um
circo, que sua função é nos tirar a atenção, nos entorpecer, nos ludibriar,
enquanto outras coisas acontecem sem que nós sequer desconfiemos; bem como os
mágicos fazem no picadeiro, só que o que some, na vida real, é nosso conforto,
nossa segurança, nossa educação, nosso dinheiro... nosso futuro.
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